sábado, 6 de abril de 2013

HAMLET e THIAGO LACERDA


A peça Hamlet está em cartaz no Espaço Tom Jobim, estrelada por Thiago Lacerda no papel principal.
Como sabemos, Hamlet é uma tragédia escrita por Shakespeare, no final do século 16. É ambientada na Dinamarca e conta a história do Príncipe Hamlet que quer vingar a morte de seu pai, assassinado pelo tio, que ainda por cima, casa com sua mãe. Em rápidas e objetivas palavras, é isso.

Voltando a peça Hamlet do Thiago Lacerda. A peça é dirigida por Ron Daniels, que em 1977, foi diretor artístico do teatro alternativo do Royal Shakespeare Company. Ok, alternativo.

Quando o espetáculo começa, começa também um desafio a nossa capacidade de abstração. Dinamarca, século 16, no entanto, o figurino é uma mistureba só.
Os militares usam um uniforme que mais parece alemão que dinamarquês. Tenho dúvida se em algum momento, os militares daquele país usaram algo parecido.
Os amigos de Hamlet usam jeans, camiseta e capacete de moto. Tudo bem contemporâneo. No entanto, Hamlet usa uma vestimenta que certamente não é atual, acho atemporal, ou quem sabe marcada por alguns séculos? Não sei, mas ele usa espada !?
Outros personagens usam típicos trajes da primeira metade do século passado.
Gertrudes, mãe de Hamlet, fica com um vestido vermelho entre a bruxa malvada e uma mãe enlouquecida.
Polônio usa terno e gravata com corte tão moderno que deve ter sido comprado em um shopping dinamarquês.
Ofélia, amada de Hamlet, usa um vestido branco entre festa de 15 anos e a noiva de Copacabana.

Vencido o primeiro obstáculo, o da abstração de figurinos (obviamente uma licença poética do diretor alternativo), pensei o que é o figurino diante de uma forte e expressiva atuação?
É bem verdade que o Thiago Lacerda se esforça, mas é quase um estranho no ninho. A exigência é tanto maior quanto a pretensão dos atores. Afinal trata-se de um clássico Shakespeariano, já encenado por grandes atores no mundo todo.
Thiago Lacerda faz o que pode, mas fica devendo por se tratar do texto que é e do autor que é. Mas não é ele que compromete o espetáculo. O elenco de apoio é muito fraco. A Ofélia é de chorar.

Mas o que é o figurino ou a interpretação de alguns atores diante de um texto de 400 anos?
Então vencido o segundo obstáculo, o foco são as falas. Densas, dramáticas e rebuscadas de um verdadeiro Shakespeare. Ou deveria.
O pior ainda estava por vir.

Polônio toma o lugar do bobo da corte e faz piadinhas sem graça, assim como seus trejeitos. Shakespeare?
Palavras como sarro e legal, entre outras estranhas ao texto original, certamente fazem Shakespeare se revirar no túmulo. Porém quando os coveiros se preparam para enterrar Ofélia e fazem sotaque de mineiro do interior, não dá nem para prestar a atenção ao que falam. Dá vontade de cortar os pulsos.

Pretensão de o diretor Ron Daniels achar que o público não é capaz de entender ou gostar de um clássico denso e dramático, e que deve se valer de subterfúgios fracos e frouxos para ser aplaudido após 2h30m de espetáculo. 

Shakespeare escreveu Hamlet logo após a morte de seu filho Hamnet, aos 11 anos.
Não dá para brincar.


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